sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ENTREVISTA: REFLORESTAR É UM ÓTIMO NEGÓCIO

A produtividade das florestas brasileiras não é atrativa apenaspara as indústrias que dependem da madeira, como é o caso do setor de papel e celulose. Hoje, com a globalização e a procura por investimentos mais seguros, investidores e fundos tanto estrangeiros quanto nacionais olham para a floresta como um meio rentável e estável para se obterem bons retornos financeiros, o que tem gerado no Brasil a procura por terras passíveis do reflorestamento.

Para tratar deste assunto, a revista O papel entrevistou Éderson de Almeida, diretor da Consufor, consultoria especializada no setor florestal que realiza pesquisas de mercado. O executivo explicou o que tem atraído capital para as florestas plantadas e como deverá ser o futuro do segmento no país.

O papel – Segundo pesquisa da Consufor-Advisory&Research, os investimentos realizados por fundos estrangeiros em florestas plantadas no Brasil ultrapassaram R$1,9 milhão em 2008. Esse valor tem aumentado?

Éderson de Almeida – Não temos um mapeamento de todos os investimentos realizados, pois muitos não são divulgados e não há controle pelo Banco Central, por se tratar de compra direta de ativos. Estimamos que, do início da década até 2009, esses fundos já tenham aplicado no Brasil cerca de US$ 1 bilhão em reflorestamentos, que ao serem vendidos, podem representar um valor ainda muito maior. Temos exemplos de florestas adquiridas a US$ 100 milhões que hoje valem US$ 500 milhões, lucro que podia ser obtido com as fazendas compradas no começo deste movimento, a preços menores, já que hoje há valorização da terra e da madeira.

O papel – Como são esses fundos que estão investindo no setor florestal do Brasil? Querem retorno de curto ou longo prazo? Como planejam seus ganhos?

Éderson de Almeida – O objetivo dessas empresas é comprar um ativo florestal existente ou terra para formar floresta. Com isso, vendem madeira no mercado interno e, caso queiram se desfazer do negócio, obtêm o lucro da valorização do ativo. Hoje, quem compra terra não tem tanta perspectiva de lucro com a venda do ativo em si, mas pensa na comercialização da madeira, esta sim com tendência de continuar se valorizando. Esse tipo de investidor de fundos de pensão, seguradoras e fundações não pensa no curto prazo, mas sim em algo de, pelo menos, dez anos de investimento, A busca pela floresta plantada se dá justamente por se tratar de algo de baixo risco e de longo prazo, com retorno adequado quando comparado a outros tipos de negócio.

O papel – Como é feita a decisão de compra de terras para reflorestamento?

Éderson de Almeida – Ao fazerem uma aquisição, esses fundos internacionais obedecem a uma série de critérios internos rigorosos, que estudam todos os aspectos legais e ambientais do projeto. Um aspecto muito analisado é a legalidade da terra, problema comum no Brasil. Esses investidores não compram propriedades sem certidão, por isso, é feita toda a análise de matrícula e também auditoria ambiental e técnica para evitar problemas futuros. Também se analisa se a produtividade do terreno é a esperada e o mercado daquela região para compra de madeira.

O papel – Por quê o Brasil tem se tornado interessante para investimentos em reflorestamento?

Éderson de Almeida – O Brasil tem se destacado em vários motivos. Antes, os fundos tinham atuação concentrada nos Estados Unidos e no Canadá, mas agora estão se espalhando pelo mundo todo. Hoje também há fundos nacionais, como o Petros e o Funcef, que já investiram mais de R$ 500 milhões no setor florestal. Esse tipo de associação tem dinheiro e precisa de algo que dê retorno econômico. Os investimentos poderiam ser em títulos públicos de longo prazo e baixo custo, mas nesses casos a rentabilidade está caindo e governos pagam cada vez menos taxas de juros. Isso faz com que haja um direcionamento desse capital para ativos reais, e o reflorestamento atende as características e retorno sem risco e de longo prazo. O Brasil é muito atrativo, pois tem a maior produtividade florestal do mundo, terra disponível para expansão e ativos em condição de serem adquiridos, além de mercado interno aquecido e de base industrial que vai consumir essa madeira – características que não existem em outras regiões do mundo. Quem investe aqui tem futuro praticamente garantido, enquanto em outros países se trata somente de mais uma aposta.

O papel – Hoje o mercado florestal brasileiro, pelo menos no setor de papel e celulose, está concentrado nas grandes empresas. Isso tende a mudar com o tempo?

Éderson de Almeida – Essa mudança aconteceu nos Estados Unidos com, por exemplo, a International Paper, cuja maior parte dos ativos florestais passou para fundos. No Brasil, ainda não há exemplos concretos dessa transição na indústria, mas já há sinais de que isso pode vir a ocorrer no longo prazo. A tendência no Brasil é de que as empresas sempre mantenham ativos florestais, uma reserva estratégica para regular preço de madeira, mas o fato é que terão outras opções. No passado, para se ter um negócio de celulose, a empresa obrigatoriamente precisava da floresta. Agora, a medida que o mercado florestal se fortalece, o foco pode ficar só no negócio principal, caso se decida por isso.

O papel – A questão de propriedade privada e os movimentos sociais ainda são um grande desafio no país. Como os investidores podem se proteger desse tipo de problema?

Éderson de Almeida – Se a legislação no Brasil já é complicada para o brasileiro, imagine para o estrangeiro! Isso ocorre não apenas na questão da propriedade, mas também de tributos. Muitas vezes há uma dupla interpretação da lei, o que impede a realização de negócios. Já assessoramos empresas de fora que deixaram de comprar terras no Sul do país, por que o vendedor não tinha todos os títulos que comprovassem a posse de terra. Conforme a região do país, os problemas mudam. No norte, por exemplo, há muita terra do Estado co dupla matrícula. Além disso, existem os movimentos sociais que estão acima da lei em diversos casos e, mesmo sem querer julgar se estão corretos ou não em seus objetivos, o fato é que o investidor fica de mãos atadas ao sofrer invasão. O governo ainda tem sinalizado um fortalecimento desses movimentos, o que enfraquece o interesse do investidor. Por conta desses fatores, as empresas procuram ter toda a segurança possível nos aspectos jurídicos e ambientais ao fazerem uma aquisição, para que não haja qualquer motivo para um ataque desse tipo, mesmo assim, não existe proteção 100% no Brasil contra esse tipo de acontecimento.

O papel – A entrada de fundos no setor, aliada ao interesse das empresas por terra e aos estudos para o etanol da celulose, poderá aumentar a competição por terras no país?

Éderson de Almeida – O Brasil é muito grande, com regiões em que o preço da terra ainda é muito baixo. Já em outros locais, o investimento florestal é menos atrativo, como o Paraná, Santa Catarina e São Paulo, onde há menor disponibilidade de terra e os preços são superiores ao que o investimento é capaz de retornar. Já regiões como as do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Piauí estão com valores adequados. Quanto mais ao norte, menor o preço, mas o mercado é reativo a essas compras. A partir do momento em que se identifica a aquisição de porções de terra, automaticamente aumenta o preço de propriedades na região. No curto prazo, os valores chegam a ser especulativos, mas depois se estabilizam.

O papel – Quanto o Brasil possui de áreas que podem ser reflorestadas?

Éderson de Almeida – O reflorestamento exige menos do que a agricultura e praticamente todo terreno da agropecuária pode ser destinado a reflorestamento. Não existe um número certo, mas estudos apontam que o Brasil possui 7 milhões de hectares de florestas plantadas e que o espaço disponível para isso no país ainda é muito grande, além da crescente demanda. Existem regiões do Rio Grande do Sul e Minas Gerais que podem ser exploradas ainda. No Piauí, há um plano do governo para o desenvolvimento deste setor. Também o Maranhão tem muita terra degradada que pode ser reflorestada. Somando tudo isso, o Brasil pode tranquilamente dobrar sua área de reflorestamento e ainda haverá mais espaço para crescer.

Fonte: Revista O Papel

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

FLORESTAS PLANTADAS

O desmatamento continua sendo uma das principais preocupações atuais. Segundo dados veiculados pela Sociedade Brasileira de Silvicultura, de 2000 a 2006 foram desmatados 13 milhões de hectares por ano no mundo todo. As plantações florestais e a expansão natural das florestas contribuíram para reduzir a perda anual para 7,3 milhões de hectares no período, uma taxa ainda inaceitável.

O mundo tem hoje 3,95 bilhões de hectares de florestas e a produção mundial de madeira é de 3,5 bilhões de metros cúbicos por ano, dos quais 47% para fins industriais. Parcela significativa dessa produção é atendida por florestas plantadas, cuja participação é crescente, da mesma forma que no comércio mundial de produtos florestais.

Neste cenário, as florestas plantadas estão assumindo, cada vez mais, funções não apenas de produção, mas também de provisão de serviços socioambientais.

Fonte: Mundo Florestal